quinta-feira, 21 de novembro de 2002


Metade

Que a força do medo que eu tenho,
não me impeça de ver o que anseio.


Que a morte de tudo o que acredito
não me tape os ouvidos e a boca
Porque metade de mim é o que eu grito,
mas a outra metade é silêncio...

Que a musica que eu ouço ao longe,
seja linda, ainda que entristeça...

Que a mulher que eu amo
seja pra sempre amada mesmo que distante
Porque metade de mim é partida
mas a outra metade é saudade

Que as palavras que eu falo
não sejam ouvidas como prece,
e nem repetidas com fervor,
apenas respeitadas,
como a única coisa que resta
a um homem inundado de sentimentos
Porque metade de mim é o que ouço,
mas a outra metade é o que calo

Que essa minha vontade de ir embora
se transforme na calma e na paz que eu mereço
E que essa tensão que me corroe por dentro
seja um dia recompensada
Porque metade de mim é o que eu penso
mas a outra metade é um vulcão

Que o medo da solidão se afaste,
e que o convívio comigo mesmo,
se torne ao menos suportável

Que o espelho reflita em meu rosto, um doce sorriso,
que me lembro ter dado na infância
Porque metade de mim é a lembrança do que fui,
a outra metade eu não sei

Que não seja preciso
mais do que uma simples alegria
para me fazer aquietar o espírito
E que o teu silêncio me fale cada vez mais
Porque metade de mim é abrigo,
mas a outra metade é cansaço...


Que a arte nos aponte uma resposta,
mesmo que ela não saiba
E que ninguém a tente complicar
porque é preciso simplicidade
para fazê- la florescer
Porque metade de mim é platéia,
e a outra metade é canção

E que a minha loucura seja perdoada,
Porque metade de mim é amor,
e a outra metade...
também...


(Oswaldo Montenegro)